Ultimamente, venho a lidar com alguns gastos extras. Dinheiro curto, mas sigo me equilibrando como posso. Na verdade, nunca nasci para tê-lo, vim despida desse apego, nasci para viver.
Era uma segunda-feira de sol radiante. Decidi reunir-me com amigas que não via há tempos. O encontro seria em um lugar chique, daqueles que lhe fazem se sentir importante só de entrar; o ambiente climatizado, com estrutura moderna.
Porem, so havia um pequeno problema, a minha conta não teria o suficiente, e como ousar entrar ali com tão pouco? Confiei na amizade—e o nome do local já dizia "camarada".
Ao chegar…
— O que deseja para beber?
Pegamos os cardápios. Enquanto as minhas amadas amigas debatiam os sabores dos drinks, dei uma rápida olhada nos preços. Escolheram as suas bebidas e, então, uma delas perguntou-me:
— Cris, e você? Não vai brindar conosco?
— Claro que sim, não perderia esse tin-tin por nada! Por favor, uma água com gás e um limão.
— Está dirigindo?
— Não, só não estou podendo ingerir álcool. A minha religião não permite.
Óbvio que, naquele instante, pensei mesmo foi no meu bolso. Risos.
— De entrada, uns pastéis de carne de sol, por favor!
A conversa fluía entre risadas, lembranças e até temas sobrenaturais. Tudo corria bem até que, mais uma vez, a garçonete se aproximou:
— O que as senhoras vão querer para o almoço? Individual ou prato para dois?
Pegamos os cardápios novamente. A minha expressão era de quem escolhia, mas, na verdade, eu apenas analisava os preços, percebendo que o meu rico dinheirinho cobriria, no máximo, a água com gás, o limão e a entrada. Foi quando uma delas sugeriu:
— Vamos pedir dois pratos, dá para todas.
E assim foi. Ambos com camarão, acompanhados por mais uma rodada de drinks, e a minha água rendendo.
A conversa continuou animada. Graças a Deus, minhas amigas são todas aposentadas, de alto astral, divertidas e boas de papo. Entre causos e piadas, aguardamos o almoço. Quando a comida chegou, percebi que ou elas comem pouco, ou veio fartura, pois experimentamos dos dois pratos e ainda sobrou. A garçonete logo sugeriu:
— Posso colocar numa quentinha?
Hora de pagar.
Antes mesmo de a conta chegar, tirei alguns livros que havia levado e disse:
— Meninas, trouxe esses livros para vender e pagar a conta.
— Ah, Cris, só se for autografado! — respondeu uma delas.
E assim foi feito. Pagamos a conta, levei uma quentinha de camarão para o jantar e, ao saborear, escrevo estas linhas em gratidão pela tarde maravilhosa ao lado dessas meninas que a vida presenteou-me.
Não sinto vergonha de contar que, às vezes, estou lisa ou que trago quentinha. Prefiro dizer o que tenho a arrotar o que não possuo.
Sou sincera, amo a vida e a forma divertida como a vivo.
A vida ensinou-me que a verdadeira riqueza esta nas pessoas, nos momentos que compartilhamos, não importa o local, chique mesmo é ser a espontânea.
A vocês, amigas, minha eterna gratidão.
C. Caldas